segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Os medos e minhas avós



Os pensamentos não param de vir...
Alguns são coloridos e leves,
Outros pesados e assustadores.
Alguns fazem rir, outros entristecem o pensador.

Ultimamente os meus pensamentos me têm feito algo a mais: suar.

Durante parte de minha vida, com minhas avós, não fui preparada por elas sobre o descompasso dos hormônios resultarem em suores movidos pelos pensamentos.

Por quê elas não me descreveram esse fenômeno?
Ah, minhas avós não tinham medo. Elas faziam, viviam, sonhavam, dormiam diferente.
Nenhuma delas havia estado por quarenta anos fazendo a mesma coisa.

Elas não tinham colado na carne o cheiro da sala de aula.
Elas não tinham a marca das falas das crianças nas suas memórias.
Elas não estavam preocupadas se o tempo ocioso lhes causaria vazio e tédio.

Minhas avós superaram há muito tempo o chicote do julgamento.
A vida delas foi bonita. À maneira delas.

Uma, parecia-me próxima, carinhosa e frágil, para não dizer, adoecida desde seus dezesseis anos, quando se casou.
A outra, um farol de luz e força. Decidida e pouco afeita a queixas. Ainda que seus dedos tortos de artrose a tivessem denunciado.

Invejo minhas avós porque elas já conseguiram morrer. E morrer deve ser terrível. Morrer deve ser a personificação do medo. Não haverá medo maior do que aquele que anunciará a nossa morte. E elas, ah, elas, tão corajosas, já não terão mais de ter calores e suores de vida.

Eu devo muito as minhas avós. De alguma forma não responsabilizamos as avós por nossas mães terem sido o que foram. Nossas mães sempre serão as piores criaturas que alguém pode ter conhecido porque nunca poderemos entender as verdadeiras razões porque fizeram isto ou aquilo. As mães vão sempre carregar parte de nossos erros e sentiremos eterno prazer em dizer que por causa delas não fizemos grande coisa com nossa vida.

As mães, diferentes das avós, são voz corrente nos consultórios de terapia e levarão os créditos de quase toda nossa frustração. Não podemos viver sem nossas mães. Temos de responsabilizá-las porque a vida dá muito medo. Sem elas e suas próprias histórias e razões, nossas vidas teriam que assumir os riscos, os piores riscos que metem medo.

Nossas avós recebem um sorriso de leveza. Com elas conseguimos ser melhores do que realmente somos. Elas conseguem nos idealizar. Elas conseguem deixar que sejamos pouco e muito.


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