A
professora Eliane nasceu no trigésimo dia do mês de novembro de
1964. Jaraguaense, viveu grande parte de sua vida na comunidade de
Rio da Luz, onde cursou os primeiros quatro anos do Ensino
Fundamental. Foi na mesma comunidade que, aos quinze anos, iniciou
sua carreira no Magistério. “Nasci tão perto da escola, que
apenas uma parede separava nossa residência da sala de aula”,
escreveu a professora Eliane na justificativa de seu projeto de
pesquisa para o curso de Especialização em “Metodologia do
Ensino”, que ela cursou, em 1994, no Centro Universitário de
Jaraguá do Sul. Essa proximidade com a sala de aula deveu-se ao fato
de ser filha de Darci Franke Welk, professora por mais de vinte anos
na “Escola de Rio da Luz II”, hoje denominada “EMEF Henrique
Heise”, que na época continha também a residência onde sua
família morava.
A
formação para o Magistério da professora Eliane iniciou no Ensino
Médio, cursado no “Colégio Divina Providência”, em seguida no
curso de Pedagogia, da “Associação Catarinense de Ensino”, em
Joinville e no curso de Especialização, do “Centro Universitário
de Jaraguá do Sul”.
A
primeira experiência no Magistério, tendo a mãe como colega de
trabalho, na então “Escola Isolada Rio da Luz II”, foi
determinante para a sua futura atuação profissional e, em grande
parte, ao que a professora Eliane representou para os profissionais
da educação que com ela conviveram.
Quando
se contempla sua atuação como diretora na Rede Municipal de Jaraguá
do Sul, e, principalmente, em seus últimos anos de vida como gestora
na “EMEF Albano Kanzler” compreende-se a importância da
experiência que originou seu “jeito de ser”, no sentido mais
marcante e bonito para o início de uma carreira. O relato versa
sobre como podia ser desafiadora a função de professora
recém-concursada na Rede Estadual e como chegou à sua primeira
experiência como diretora da “EMEF Helmuth Guilherme Duwe”.
Ouçamos a própria voz da professora Eliane nessa narrativa1:
“(…)
após ter prestado Concurso Público Estadual, efetivei-me na Escola
Isolada Estrada Garibaldi, que ficava a dezessete quilômetros de
minha residência. Esse trajeto era constituído de quatro
quilômetros subindo serra e treze para descer. Ida e volta, trinta e
quatro quilômetros, estrada de chão e muito emburacada.
Foi
um ano difícil na questão financeira. Como não havia ônibus que
passasse na escola, sujeitei-me à condução própria e no final do
mês, o salário não cobria o combustível que gastava. Mas o que
importava era a realização pessoal e a minha situação no quadro
de pessoal do Estado. Foi uma experiência válida, para um despertar
aos vários desafios que encontrei no decorrer do ano.
Apesar
de ser uma escola pequena com apenas dez alunos (…), além de
lecionar e fazer a limpeza com os alunos, preparava a merenda na
própria sala de aula e estavam incluídos ainda o cultivo de uma
horta e a limpeza do pátio. Por serem tão poucos alunos, é que foi
possível me aproximar deles, chegar bem perto de cada um, fato este
que me levou a um relacionamento e envolvimento afetivo muito grande.
Formávamos um grupo onde as tarefas eram divididas e o resultado dos
objetivos sempre foram alcançados.
Ao
iniciar o ano letivo, visto tratar-se de uma nova realidade, onde
tudo era desconhecido, inclusive o nível de aprendizagem que
possuíam, resolvi fazer um ditado para saber onde iniciar. Para
minha surpresa, deparei-me com o fato de que havia alunos na 2ª e na
3ª série que precisavam ser alfabetizados. Guardei as folhas nas
quais fizeram o ditado e no final do ano as devolvi. Lembro do
espanto de alguns que diziam: “Fui eu que fiz isso aí?” Naquele
momento percebi o quanto foi gratificante a minha dedicação e
empenho frente a esses alunos. Houve sintonia que resultou num
trabalho positivo. Não posso deixar de citar a colaboração dos
pais para que isso acontecesse.
O
meu carinho pelos alunos era tão grande, e como não havia retorno
financeiro para presenteá-los, marcamos uma data, consultamos os
pais e os convidei para passarem um dia na minha casa. Isto aconteceu
na Semana da Criança. Coloquei-os todos dentro do meu Parati e nos
dirigimos a Rio da Luz, onde morava. É impossível descrever a
emoção que se estampava no semblante de cada um. Foi um dia
diferente. As refeições foram feitas em conjunto pois todos cabiam
na mesa da cozinha.
O
fim do ano chegou. Fizemos uma celebração de Natal juntamente com
os pais que nunca haviam participado de uma festa de Natal na escola.
Nesta comemoração cantei hinos de Natal, acompanhada de violão que
eu mesma tocava.
Sabendo
que o estágio probatório era de um ano, os pais estavam conscientes
de que eu não voltaria no ano seguinte. (…) então surgiram as
propostas deles me pagarem uma parte do combustível, uma mensalidade
que ajudasse nos meus custos, mas consegui que percebessem a
inviabilidade do pedido.
Pelo
bom desempenho que tive nestes anos, recebi o convite de responder
pela direção de uma Escola Reunida mais perto de minha casa. Foi
uma proposta irrecusável. Era uma escola recém-criada que começou
a funcionar com uma turma de 5ª série. Só mais tarde foi decretada
Escola de Primeiro Grau com as séries sendo implantadas
gradativamente. Isto fez com que eu respondesse pela direção,
secretaria e ainda lecionava Português e Educação Artística.
Atualmente a escola possui trezentos alunos de pré-escolar a 8ª
série”.
A
professora Eliane, na época, já se perguntava sobre o papel da
afetividade na aprendizagem dos alunos. Ela conclui seu texto
afirmando: “a afetividade não é uma utopia (…) é possível
ser cultivada e que ela em grande parte é responsável pelos
resultados da aprendizagem em nossos dias.” Quem conviveu com a
Professora Eliane certamente pode afirmar que ela cultivou as
qualidades mais desejáveis: solidariedade, compaixão, dedicação,
fé no ser humano.
A
professora Eliane pode ser considerada uma das pessoas mais
empenhadas na luta por uma educação pública de qualidade. Através
de seu incansável investimento na educação de crianças e jovens,
atuou com dedicação e competência até o fim de sua vida, que
ocorreu no dia 1º de agosto de 2014, aos 49 anos.
Para
quem conviveu com Eliane, ficou a saudade. Para quem trabalhou com
ela, ficou o exemplo.
1Este
texto é de autoria da professora Eliane e consta do projeto de
pesquisa do curso de Especialização em “Metodologia do Ensino”,
cursado em 1994, no Centro Universitário de Jaraguá do Sul, sob
orientação da professora doutora Amândia de Borba, da Univali. O
referido trabalho encontra-se atualmente arquivado na Biblioteca da
Universidade Católica de Santa Catarina.