terça-feira, 1 de setembro de 2009

Uma vida aqui, outra acolá

Foi no mês de julho, durante o recesso escolar, quando li a crônica de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo. Em seu conteúdo estava o convite, para quem o assim quisesse entender, de nos levar aos caminhos da reflexão sobre nossas convicções. Berlusconi, como queria a crônica, devia ser condenado por sua conduta privada inadequada e assim fadado ao fracasso como governante ou a vida particular do premiê italiano nada teria de repreensível, caso nos flagrássemos convictos que suas opções particulares não o impedem de ser um bom administrador?
Quase um mês após esse episódio, deparo-me com os comentários de colegas de profissão sobre se a vida particular de uma certa professora, alvo da mídia paralela, a impossibilita de seguir sendo séria em sua tarefa de educar crianças e jovens.
Estou a dar voltas para chegar ao texto de Luiz Carlos Menezes, publicado na Revista Nova Escola, sob o título "O ato de ensinar e a condição humana" (jun./jul. 2009).
Menezes intensificou meu pensar sobre a questão de Berlusconi e da professora filmada e seu conteúdo, creio, indevidamente publicado na internet.
Ora, quem somos nós, por detrás da profissão de professores, senão exatamente seres humanos falíveis e inconclusos? Quem somos nós, senão seres aprendentes? Foi nesse interlúdio que me flagrei desenhando a possível resposta: não importa se somos humanos. Importa transpor a condição, que nos impinge a natureza humana, de nos fragilizarmos demasiado diante das adversidades cotidianas. Importa saber se realmente conseguimos cumprir nossa tarefa de educadores com o mínimo de qualidade e respeito pela igual condição de que são detentores os estudantes a quem ensinamos. Importa, sobretudo, interrogarmo-nos se estamos realmente promovendo a aprendizagem. Fora isso, de vez em quando alguém nos flagrará na vida ao vivo.