sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cheio de nada



Hoje não sei o que tenho.
Tenho algo?
Melhor seria dizer que nada me pertence.
Nem por ilusão, nem por direito.
A pergunta deveria ser... hoje sei o que não tenho?
Paz? Sim, mais do que a necessária.
Comodidade? Sim, e é ela que me retém aqui.
Paciência? Uma longa e terrível capacidade de não me indispor.
Medo? Sobretudo.
Sensação de perda? É desta sensação que me alimento hoje.
Então tenho. Tenho tanta coisa pelo que parar. Pelo que pensar.
Mas hoje não tenho a coisa mais importante: inspiração e palavras.
Não sei o que dizer. Nada tenho a dizer. Como dizer então?
Quais palavras virão à minha boca e dispararão por intermédio de meus dedos ao teclado?
Como vou falar desse nada que me habita nesta sexta-feira à noite?
Os outros têm palavras? Pensam nelas? Precisam delas?
As palavras me abandonaram e não querem vir.
As explicações não serão dadas. Tudo ficará suspenso.
Um sabor de nada na boca. Uma falta de coragem de chorar por esse nada.
Nenhuma lágrima. Nenhuma queixa concreta. Só essa ideia de vazio e nada.
Amanhã não existe. Ontem, esqueci. Hoje esse gosto de ar insípido na boca vazia.
Todos vão me esquecer. E eu farei o mesmo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O que é bom para você?


Tenho aprendido com o passar dos anos que a única marca que eu posso fazer de mim nesse chão que piso é minha escrita furtiva e apaziguadora.
Nem sempre atendo logo ao chamado. Passam-se horas e dias às vezes. Até que chega o momento de perguntar o que é bom para mim, como uma pergunta que devo responder, pois ela me interpelou na madrugada e todas as respostas se desenharam previamente.
Café da manhã:
Bom é tomar café, num domingo de inverno, com as crianças, que dão aquela alegria e você pode esquecer que um dia vai morrer e deixar tudo isso para trás. Saber que elas estão pequenas e você provavelmente tem o compromisso de cuidar delas, assim sua sábia natureza vai conservá-lo por mais tempo entre elas.
Filme:
Bom é assistir a um filme na adolescência, um título inesperado, numa tarde das férias, lembrando que elas vão terminar e que, por isso, deve-se valorizar essa boa ociosidade.
Casamento:
Bom é casar com o homem por quem estou apaixonada, que ofusca toda a presença das outras pessoas. Aquele, que ao segurar a mão, faz você chorar de alegria sempre que pensar nisso.
Dançar:
Bom é dançar com o amado cavalheiro, que leva seu corpo no flutuar da música, que deixa um espaço para o devaneio da mulher. A música penetrando seu íntimo, a leveza dos corpos que dançam na suavidade da melodia.
Pescar:
Bom é pescar no rio ou no lago, de águas claras e calmas, como se o dia nunca fosse terminar, e, depois, pudesse pensar com saudades dessa vivência. A árvore frondosa, o gramado bem verde, o ar da montanha, a brisa fresca, a sensação de paz total.
Livro:
Bom é ter nas mãos o livro que desperta escrever tanto quanto conhecer as ideias de seu autor. Aquele que revoluciona as sensações, que confirma as suspeitas tanto tempo ali, no seu peito ferido, e que agora saem flutuando e vão para o papel.
Ano Novo:
Bom é aquele ano novo que ainda está por acontecer. Que vai surpreender seu coração incrédulo.

*Este bem poderia ser um lugar de pescar. Obrigada quem se sensibiliza comigo e entende que pescar requer saber parar seu próprio tempo.

domingo, 1 de janeiro de 2012

O que se pode depreender num dia de praia sobre nós mesmos?




Quando eu tomo duas xícaras de café em seguida ou como chocolates, mais de dois, logo acredito que estou exagerando. Porém, vejo nesta praia dezenas de pessoas carregando bolsas e baús térmicos, abarrotados de comida e bebida e, nos semblantes de seus proprietários, não vislumbro uma nesga de autorreprovação.


Ah se eu pudesse decidir entre o meu eu que exagera em autocensura e o superego inexistente desses consumidores satisfeitos!