sábado, 10 de novembro de 2018

Antropologia da surpresa

Passaram-se poucos dias ... Poucos, sim.
E eu já nem lembro como era minha vida antes (sic).
Dei-me novos horários, com antigas tarefas travestidas de novas.
Parece, assim, entretanto, que tudo está igual.
O diferente só se esconde na natureza de minhas próprias imposições:
- não me levanto mais tão cedo. Já durmo até mais tarde (sempre o desejei).
- não me obrigo dormir antes da meia noite e meia. Antes era um suplício saber que somente restavam seis horas de descanso.
- relaxo mais nos fins de semana. A segunda-feira não me assusta mais. Não penso mais no drama do domingo à noite.
- faço comida mas não necessito observar tanto o relógio. Posso almoçar quando eu quiser.
Mas...
- ainda arrumo a cama diuturnamente, como se algo me impulsionasse mesmo quando gostaria de soltar meu corpo sobre o lençol amarrotado, sorrindo por nada.
- ainda arrumo os objetos e preservo seus lugares como se me pudesse faltar tempo para procurá-los.
- ainda não me convenci de que o dia é meu e que posso fazer uso de suas horas sem ter qualquer preocupação.
- ainda não saio em passeios nos dias de sol, mas me comporto como uma menina boazinha que precisa perguntar para mamãe se pode sair de casa.
- ainda estou presa aos meus velhos hábitos e parece interminável a lista de motivos que me fazem paralisar.
Faço um esforço enorme para me convencer que nada mais pode me controlar as sensações.
Chego à conclusão de que preciso pensar mais sobre o que me devolve às mesmas atividades de minha vida toda,
Surpreendo-me com a repetição, com meus dias iguais, com minha habitual indignação.
Temo que piorei a relação comigo mesma.