sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cheio de nada



Hoje não sei o que tenho.
Tenho algo?
Melhor seria dizer que nada me pertence.
Nem por ilusão, nem por direito.
A pergunta deveria ser... hoje sei o que não tenho?
Paz? Sim, mais do que a necessária.
Comodidade? Sim, e é ela que me retém aqui.
Paciência? Uma longa e terrível capacidade de não me indispor.
Medo? Sobretudo.
Sensação de perda? É desta sensação que me alimento hoje.
Então tenho. Tenho tanta coisa pelo que parar. Pelo que pensar.
Mas hoje não tenho a coisa mais importante: inspiração e palavras.
Não sei o que dizer. Nada tenho a dizer. Como dizer então?
Quais palavras virão à minha boca e dispararão por intermédio de meus dedos ao teclado?
Como vou falar desse nada que me habita nesta sexta-feira à noite?
Os outros têm palavras? Pensam nelas? Precisam delas?
As palavras me abandonaram e não querem vir.
As explicações não serão dadas. Tudo ficará suspenso.
Um sabor de nada na boca. Uma falta de coragem de chorar por esse nada.
Nenhuma lágrima. Nenhuma queixa concreta. Só essa ideia de vazio e nada.
Amanhã não existe. Ontem, esqueci. Hoje esse gosto de ar insípido na boca vazia.
Todos vão me esquecer. E eu farei o mesmo.