domingo, 16 de outubro de 2011

Entre 1599 e 2011: o que há com o tempo?


Shakespeare, bem antes de mim,
notou que do pensamento se depreendem sensações que gostaríamos de
apagar. Ah, se pudéssemos escolher nossos pensamentos!

"[...] Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo,
O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso,
Toda a lancinação do mal-prezado amor,
A insolência oficial, as dilações da lei,
Os doestos que dos nulos têm de suportar
O mérito paciente, quem o sofreria,
Quando alcançasse a mais perfeita quitação
Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos,
Gemendo e suando sob a vida fatigante,
Se o receio de alguma coisa após a morte,
–Essa região desconhecida cujas raias
Jamais viajante algum atravessou de volta –
Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos?
O pensamento assim nos acovarda, e assim
É que se cobre a tez normal da decisão
Com o tom pálido e enfermo da melancolia;
E desde que nos prendam tais cogitações,
Empresas de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se de rumo e cessam até mesmo
De se chamar ação [...]".

Nada deve ser muito mudado.
Está tudo bem!
Hoje o dia amanheceu e eu me mexi na cama.
Fiz o desjejum como sempre.
O meu corpo correspondeu em todos os sentidos.
Estava tudo bem.
A chuva da madrugada molhou as folhas das
árvores e elas tornaram-se brilhantes como já era esperado.
O dia segue, as horas passam, o mundo é o mesmo.
Está tudo bem!
O domingo segue seu próprio rumo.
Deve haver os que hoje têm o dia mais feliz de suas vidas.
Deve haver os que hoje acreditam viver seu pior dia.
E eu acho que está tudo bem...
A não ser por pensamentos, que estranhamente me produzem
uma terrível angústia e sensação de perda e desintegração de mim.
Está, parece, tudo bem!
Se não tivesse esses pensamentos, poderia deixar o dia passar.
Poderia deixar a vida passar.
Mas há os pensamentos, esses malditos perseguidores.

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