sábado, 15 de outubro de 2011

Madrugada louca: morrer para dizer que viveu?

Minha adolescência foi cerceada em tantas coisas...
Tudo tinha um comedimento exemplar: não sorrir à toa, não brincar em exageros, não falar muito alto, não chamar a atenção, não viver...
Havia pois o julgamento social dos comportamentos, o que nos ensinou muito precocemente que era mais salutar que ninguém comentasse nossa existência.
A semelhança com colégios internos do início do século passado não era exatamente um comparação exata, mas beirava o mesmo espírito.
Aprender abster-se de viver grandes emoções era um ideal propagado e empenhado.

Depois, quando nos tornamos adultos não havia mais porque vigiar. Estava lá a autocensura. Uma coisa lá dentro que diz "não" o tempo todo. Uma coisa que segura seguramente. Que encerra a vontade de sair e viver livremente. Algo que dá um conforto pelo fato de se poder reter da maioria das emoções. Um suposto porto seguro plantado com profundas raízes dentro de você.

Pensando nessa vida que nos foi ensaiada, tive a sensação de que a madrugada é mesmo louca e por isso nos detiveram tantas vezes. Será que foi para preservar nossa vida? Uma motocicleta insandecida passeou na minha rua e deixou a madrugada com ares daquela liberdade vigiada da adolescência. Seu condutor parecia dizer que para mostrar que viveu deveria morrer na velocidade do vento. E eu me encolhi na cama pensando se ele sofreria se seu veículo desgovernado o levasse para a morte.

Sobre pequenas mortes nossa adolescência nos ensinou com maestria.

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