quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O mundo inteiro sem mim

Um dos sofrimentos mais intensos que tenho experimentado é a minha insistência em supor que vou transformar a realidade numa alegre e imensa experiência de prazer. E o que tenho sentido é exatamente o contrário disso: quanto mais quero controlar o incontrolável, mais me frusto e retorno ao desconsolo de que tudo está errado.

Há algo lá fora que eu não sei nominar. É uma sensação de vagar sobre um mundo conhecido e quando me encontro em contato com ele, fujo apavorada, pois logo me invade a vontade de voltar ao aconchego de minha pessoa. Minha pessoa não tenta muito.

Eu não sei bem quando começo com um hábito. Certas ações vão sendo repetidas e repetidas e quando as deixo de fazer, meu entorno me causa muito medo. Não é um medo comum. Não vejo esse medo nos outros seres humanos.

Hoje ouvi uma mulher contar de seu tornozelo torcido. Ela fazia o relato com um cuidado e uma autopiedade que me produziu inveja. Se ela me perguntasse o que eu estava pensando, teria dito que aquele tornozelo era realmente o sentido de sua vida. Quando o tornozelo dói, toda a outra dor é menor.

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