domingo, 16 de agosto de 2009

Para que talento?

Sem querer me perder na falácia, como alerta Contardo Calligaris, para quem a arte deveria ser apreciada sem guia pedagógico, os livros me guiam para dentro de meus próprios conflitos, impossibilitados à expressão, sem a sua preciosa ajuda.
E quando essa "ajuda" quase vem por encomenda, é preciso aceitá-la, ainda que ateste novamente aquilo que negamos peremptoriamente em nosso íntimo.
Nesse sentido, transcrevo um trecho relativamente denso de Picard, (de novo, que posso fazer?) para minimizar meu sentimento de impotência diante da árdua tarefa de escrever, quando constato que me falta talento:
"Nessa manhã, acordei com a atroz, a insuportável consciência de não ter talento. Amargura reivindicatória, cujo absurdo não é suficiente para acalmar o sofrimento. Claro, o talento é um mito, mas como evitar sonhar com um estado que nos levaria a tocar os céus? Vejo o talento alado, leve, espontâneo e, geralmente inconsciente de si mesmo. Imagino que ele soluciona os problemas da criação antes de tê-los enfrentado..."(2008, p. 37).
Contrariando a idéia de que só deveria escrever caso houvesse talento, vou me aceitando com as faltas e incompletudes tão próprias dos seres humanos, possuidores, quem sabe, de talentos desencontrados.

Um comentário:

  1. achei lindo isto daqui: "os livros me guiam para dentro de meus próprios conflitos, impossibilitados à expressão, sem a sua preciosa ajuda".

    li algumas vezes este teu escrito. e, na maioria delas, estava aqui à frente do computador escrevendo, parindo, encucando, como seja.

    e assim vamos nós, eu e vc, e muitos e muitos outros, lidando com nossas faltas e incompletudes. mas escrevendo. pois nos é necessário.

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